“Esqueça um Emmy ou um Oscar... ‘Making a murderer’ merece um prêmio Nobel. É o maior documentário que já vi”, escreveu o comediante inglês Ricky Gervais no Twitter. A estreia dos dez episódios da nova série original da Netflix vem causando sensações conflitantes na audiência. “Não. Consigo. Parar. É esmagador, mas extremamente fascinante”, completou a cantora e atriz Mandy Moore.
A intenção da Netflix parece ser mesmo causar controvérsia. Em uma estratégia pouco
comum para a gigante do streaming, o primeiro episódio da série dirigida por Laura Ricciardi e Moira Demos foi divulgado na íntegra no YouTube.
Desde 18 de dezembro, o capítulo foi visto por cerca de 300 mil pessoas. O sucesso do documentário vem sendo comparado ao de “The jinx”, na HBO, e ao do podcast “Serial”.
A série, que acompanha o desenrolar de um crime real, causou mais um abalo na já combalida reputação da polícia americana. Laura e Moira filmam a vida de Steven Avery, homem que passou 18 anos na cadeia por um crime de abuso sexual que não cometera. Depois de ser solto graças a um exame de DNA, em 11 de setembro de 2003, o americano de Manitowoc, no estado do Wisconsin, tornou-se um símbolo das injustiças do sistema penal dos EUA. Então, decidiu processar as autoridades policiais que teriam ignorado, conscientemente, provas de sua inocência.
O processo girava em torno de US$ 36 milhões e colocava em risco as carreiras de diversos agentes da lei envolvidos em sua prisão. Enquanto as investigações sobre o caso corriam, ele foi novamente preso, em 2005, e sentenciado à prisão perpétua, acusado de um homicídio que também afirma não ter cometido. O caso o forçou a desistir da ação legal e a aceitar uma indenização de US$ 400 mil para pagar os custos de sua nova defesa.
Rodada ao longo dos últimos dez anos, em ritmo de slow-journalism, a série expôs a “conspiração do silêncio” que condenou Avery injustamente em 1985. “Making a murderer” acompanha também os fatos que levaram à sua nova prisão, em 2005. Calcado em entrevistas com os parentes e advogados de Avery, o seriado também mostra os depoimentos de policiais, xerifes e detetives envolvidos no caso. Foram 500 horas de entrevistas e outras 180 de gravações de julgamentos.
As duas diretoras souberam do caso através de um artigo de jornal quando terminavam suas graduações em Cinema na Universidade de Columbia. Então, viajaram para a pequenina cidade do interior americano e fixaram residência. Com isso, passaram a documentar todos os detalhes do caso. As reviravoltas reais que sacudiram a vida de Avery desde 1985 são dignas da ficção. Como se as maquinações policiais da primeira temporada de “True detective” encontrassem as paragens geladas de “Fargo” e os mistérios da pequena cidade de “Twin Peaks”.
Conhecido por ser um garoto problemático em Manitowoc, o rapaz de 23 anos era filho de uma família de má reputação e tinha ficha policial (cometera um pequeno roubo e fora preso por maus-tratos a animais). Para completar, ele comprara briga com uma prima, esposa de um policial. Quando um caso de abuso sexual seguido de tentativa de homicídio surgiu, os agentes ignoraram algumas evidências para incriminar Avery. Ele sempre negou a autoria do crime.
Em 2005, restos mortais da fotógrafa Teresa Halbach foram encontrados na propriedade de Avery depois de oito dias de buscas. Novamente preso, ele sustenta que o caso foi uma armação para condená-lo. A estreia da série causou uma apaixonada reação na internet.
Enquanto alguns veem parcialidade no projeto de Laura e Moira, outros acreditam em uma rede conspiratória que convergiu para a nova condenação do homem.
Um abaixo-assinado pela libertação de Avery foi criado, e os policiais envolvidos na segunda prisão sofreram uma chuva de críticas. Nesta semana, o grupo Anonymous anunciou que reuniu evidências suficientes para livrá-lo da cadeia. Como o caso está longe de chegar ao fim, Laura e Moira garantem que continuam reunindo documentos para novos capítulos da série.
“Nós conversamos com Steven e gravamos as ligações telefônicas. De certa forma, continuamos a produção”, disse Moira ao site “Mashable”.
LEIA A CRÍTICA: http://cinepop.com.br/critica-making-a-murderer-da-netflix-112065