O que é ser homem para você? Ter poder e dinheiro? Transar com muitas mulheres ao longo da vida ou, então, mentir sobre isso a outros homens? Casar e ter filhos, de preferência homens? Então, ensinar a esses meninos como serem verdadeiros homens?
O documentário The Mask You Live In que está disponivel na Netflix fala sobre essas perguntas e vai além, trazendo um panorama sobre a “crise dos meninos” nos EUA e os efeitos devastadores da dita “cultura do macho” para a sociedade.
Por meio do relato de experiências vividas por crianças, jovens e adultos, e da análise de psicólogos, educadores e estudiosos do assunto, The Mask You Live In conta sobre a perpetuação dos modelos de comportamento e gênero, de como ensinamos nossos meninos a serem homens. “Seja um homem” é classificada por um dos entrevistados como uma das frases mais destrutivas da nossa cultura. Sobre esse contexto, o filme denuncia com intensidade a responsabilidade de pais, escolas, da indústria do entretenimento (cultura dos games, das celebridades e da música rap americana como exemplos) e do mundo dos esportes (e seus treinadores, que desde muito cedo, doutrinam meninos à competitividade, violência e repressão de qualquer manifestação de fragilidade).
Ensina-se já nos primeiros 6 anos de vida, fase em que especialistas apontam como a que mais determina o adulto que seremos, como se deve neutralizar emoções e hierarquizar qualquer tipo de relação pelo domínio e subjugação do outro. Logo no início do filme, isso é exemplificado por um dos educadores entrevistados com a seguinte situação:
“Entre em qualquer playground dos EUA, onde crianças brincam alegremente. Pergunte a elas ‘Quem é a mulherzinha aqui?’, e dois meninos vão começar a se apontar, ou todos apontarão um único menino, que acabará brigando com todos ou então voltará para a casa chorando.”
Esse comportamento acaba se perpetuando em uma cultura que estimula insegurança sobre a masculinidade, fazendo com que esta tenha que ser provada o tempo todo. Uma cultura que cria, geração após geração, homens que odeiam mulheres.
Homens que, plenamente convictos do que estão fazendo, matam 50 pessoas em uma boate gay. Isso liga o filme, de uma certa maneira, a outro documentário, She’s Beautiful When She’s Angry, que aborda a necessária luta feminista diante dessa cultura que estimula e molda inimigos.
Uma série de casos de bullying, trotes violentos, estupros e assassinatos em massa são citados ao longo do documentário como consequências do que se instituiu ser homem na América.
Alcoolismo e abuso de outras drogas são quase institucionalizados como comportamento. O altíssimo índice de tentativas e de suicídios consumados é outro triste dado revelado por The Mask. Meninos que não se encaixam, que sofrem abusos e que são educados para não falar sobre isso acabam interrompendo suas vidas ainda na adolescência.
Mesmo diante de um cenário devastador, conclui-se The Mask You Live In com olhar otimista, apresentando uma série de iniciativas e projetos de educadores que estão combatendo esse aspecto cultural tão enraizado, estimulando diálogo, compartilhamento de experiências e a livre expressão entre homens, desde quando crianças até a idade adulta.
O filme também cobra a responsabilidade de cada um de nós em expandir o que é ser homem, tanto para nós mesmos, quanto para os meninos que estamos criando. Não agir sobre isso e, ainda por cima, minimizar a dor do outro, nos torna, de alguma forma, cúmplices de massacres como os de Orlando, e dos abusos, estupros e suicídios de cada dia.
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